quinta-feira, setembro 03, 2009

DiálOgos acerca de ritmOs cardíacos, ou não



Ela
: Qual é o mal de amar, assim, tão intensamente?

Ele: Nenhum, de facto. Se ambos amarem num registro igual.

Ela: E se um amar a um ritmo mais intenso que o outro?

Ele: Há duas opções... Morte por acidente ou morte natural.

Ela: (Ri-se)
– Trágico. Como?

Ele: Ou o primeiro atropela o segundo devido ao excesso de intensidade, ou o segundo morre de ataque cardíaco tentando alcançar o primeiro.

Ela: Mmm... E não há hipótese de harmonia em dois corações tão desritmados?

Ele: Talvez... Se o primeiro aprender a respirar mais lentamente sem que com isso deixe de respirar totalmente e o segundo acelerar um pouco o ritmo sem que se chegue a asfixiar... Talvez consigam encontrar uma harmonia aí no meio.

Ela: Até que um dia ou primeiro se esqueça e volte ao seu registro normal, enforcando o segundo puxando com demasiada força o canal que liga a artéria pulmonar à aorta; ou o segundo se esqueça de deixar uma abertura maior na aorta para que o primeiro possa entrar e esse morra com uma contusão fatal ao embater nela com tanta força.

Ele: Já pensaste na hipótese de ambos juntos, conseguirem atingir um ritmo permanentemente possível de alcançar?

Ela: (Risos...)
– Ou isso. Sentes-te capaz de acelerar?

Ele: Ou tu de abrandar?

Ela: Não podemos ter certezas, de facto, sem antes se tentar.

Ele: (Sorri)

Ela: Não te esqueças de dizer à minha mãe que se eu morrer com uma aorta na cara, para me perdoar por morrer a praguejar e a sorrir ao mesmo tempo.

Ele: Ela sabe que nunca foste muito dada a ritos religiosos, creio que imagina que gostar de ajoelhar não é exactamente o mesmo do que rezar... (riso malicioso)

Ela: (Ri)

Ele: Mas porquê "a sorrir ao mesmo tempo", até a morte a imaginas assim?

Ela: Sabes bem que não a imagino, simplesmente. Mas sei que se lá chegar dessa forma quer dizer que, no caminho antes, fui muito feliz contigo em ritmos encontrados.

(Sorriem ambos)


Ele: Querida, será que, então, agora já me podes tirar o nó de marinheiro com que me ataste a gravata à cama, por favor?

Ela: Sempre teve ao teu alcançe soltá-lo. Basta que te inclines para a frente e me tires o uniforme de marinheira que me ofereceste à entrada. Debaixo dele tens umas bóias de salvação para não te afogares se o mar estiver intenso demais para ti.

Ele: (risos)
– Traiçoeira, enganaste-me.

Ela: (ri-se também)
– Não. A tua liberdade sempre esteve ao teu alcance, tu é que estavas demasiado ocupado a procurá-la e pouco atento para ver que ela sempre esteve aqui.



[pic by Fresh_Evy_Coffee]

3 comentários:

Fada disse...

Eu digo que este texto está gírissimo!!!

E que não é fácil adoptarem o memso ritmo, não é... Mas é possível!!!

:D

Beijitos, borboletinha! :)

A Coração disse...

Adorei. Achei este diálogo genial. Quanto a ritmos cardíacos... acredito em ritmos próximos, mas nunca iguais.

Å®t Øf £övë disse...

Nogs,
Gosto deste tipo de dialogos. Está absolutamente fantástico, principalmente por aquilo que não foi dito, mas que está nas entrelinhas, e eu sempre fui fascinado por ler nas entrelinhas.
Beijinhos.