Ele: Nenhum, de facto. Se ambos amarem num registro igual.
Ela: E se um amar a um ritmo mais intenso que o outro?
Ele: Há duas opções... Morte por acidente ou morte natural.
Ela: (Ri-se)
– Trágico. Como?
Ele: Ou o primeiro atropela o segundo devido ao excesso de intensidade, ou o segundo morre de ataque cardíaco tentando alcançar o primeiro.
Ela: Mmm... E não há hipótese de harmonia em dois corações tão desritmados?
Ele: Talvez... Se o primeiro aprender a respirar mais lentamente sem que com isso deixe de respirar totalmente e o segundo acelerar um pouco o ritmo sem que se chegue a asfixiar... Talvez consigam encontrar uma harmonia aí no meio.
Ela: Até que um dia ou primeiro se esqueça e volte ao seu registro normal, enforcando o segundo puxando com demasiada força o canal que liga a artéria pulmonar à aorta; ou o segundo se esqueça de deixar uma abertura maior na aorta para que o primeiro possa entrar e esse morra com uma contusão fatal ao embater nela com tanta força.
Ele: Já pensaste na hipótese de ambos juntos, conseguirem atingir um ritmo permanentemente possível de alcançar?
Ela: (Risos...)
– Ou isso. Sentes-te capaz de acelerar?
Ele: Ou tu de abrandar?
Ela: Não podemos ter certezas, de facto, sem antes se tentar.
Ele: (Sorri)
Ela: Não te esqueças de dizer à minha mãe que se eu morrer com uma aorta na cara, para me perdoar por morrer a praguejar e a sorrir ao mesmo tempo.
Ele: Ela sabe que nunca foste muito dada a ritos religiosos, creio que imagina que gostar de ajoelhar não é exactamente o mesmo do que rezar... (riso malicioso)
Ela: (Ri)
Ele: Mas porquê "a sorrir ao mesmo tempo", até a morte a imaginas assim?
Ela: Sabes bem que não a imagino, simplesmente. Mas sei que se lá chegar dessa forma quer dizer que, no caminho antes, fui muito feliz contigo em ritmos encontrados.
(Sorriem ambos)
Ele: Querida, será que, então, agora já me podes tirar o nó de marinheiro com que me ataste a gravata à cama, por favor?
Ela: Sempre teve ao teu alcançe soltá-lo. Basta que te inclines para a frente e me tires o uniforme de marinheira que me ofereceste à entrada. Debaixo dele tens umas bóias de salvação para não te afogares se o mar estiver intenso demais para ti.
Ele: (risos)
– Traiçoeira, enganaste-me.
Ela: (ri-se também)
– Não. A tua liberdade sempre esteve ao teu alcance, tu é que estavas demasiado ocupado a procurá-la e pouco atento para ver que ela sempre esteve aqui.
[pic by Fresh_Evy_Coffee]
3 comentários:
Eu digo que este texto está gírissimo!!!
E que não é fácil adoptarem o memso ritmo, não é... Mas é possível!!!
:D
Beijitos, borboletinha! :)
Adorei. Achei este diálogo genial. Quanto a ritmos cardíacos... acredito em ritmos próximos, mas nunca iguais.
Nogs,
Gosto deste tipo de dialogos. Está absolutamente fantástico, principalmente por aquilo que não foi dito, mas que está nas entrelinhas, e eu sempre fui fascinado por ler nas entrelinhas.
Beijinhos.
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